OCEANO MISTERIOSO: BARRY CLIFFORD E A REDESCOBERTA DOS TESOUROS SUBMERSOS

O WhyDah Gally é uma das maiores lendas do período de ouro da pirataria no século XVIII. Este navio naufragado em 1717 permaneceu envolto em mistério até 1984, quando uma expedição liderada pelo arqueólogo marinho Barry Clifford trouxe à tona uma das descobertas mais significativas dos estudos arquelógicos.

Este artigo explora as expedições que levaram à redescoberta do WhyDah Gally e as escavações realizadas para recuperar seus restos, trazendo à tona a história interessante de um navio pirata que se tornou ícone da história marítima.

Barry Clifford e o início das expedições

O desafio da localização

Após o naufrágio do WhyDah Gally em 1717, o local exato onde o navio havia afundado permaneceu desconhecido por mais de dois séculos. Durante esse período, várias tentativas de localizar o navio foram feitas, mas as condições do fundo marinho de Cabo Cod (Cape Cod, em inglês), em Massachusetts, e a falta de documentos precisos dificultaram imensamente o trabalho de localização.

A região é conhecida por seu fundo marinho irregular, águas enganadoras e uma abundância de outros naufrágios. Estava claro que encontrar o WhyDah Gally não seria tarefa fácil. Além disso, o fato de o navio ter afundado durante uma furiosa tempestade e, posteriormente, ter sido abandonado pela marinha britânica, contribuiu para o mistério que envolvia o naufrágio.

Pistas fragmentadas e contraditórias

As únicas pistas existentes sobre a localização do navio eram relatos antigos, fragmentados e contraditórios, que indicavam uma área imprecisa ao longo da costa de Cabo Cod. Foi nesse cenário desafiador que o arqueólogo marinho Barry Clifford e sua equipe começaram a trabalhar, na esperança de resolver um dos maiores mistérios da pirataria.

Clifford, que já tinha experiência com a busca por navios naufragados, estava ciente de que seria necessário mais do que simples especulação histórica para localizar um navio perdido no fundo do mar por tanto tempo. A abordagem científica e o uso de novas tecnologias seriam essenciais para o sucesso da missão.

A primeira expedição: o ano de 1982

A busca pelo WhyDah Gally começou oficialmente em 1982, quando Barry Clifford, munido com uma vasta experiência em arqueologia marinha, iniciou a expedição na região de Cabo Cod. A primeira missão foi conduzida com recursos limitados, mas a pesquisa já mostrava o potencial de sucesso.

Clifford e sua equipe não estavam apenas buscando o navio, eles estavam tentando juntar as peças de um quebra-cabeça histórico que envolvia marinhas, piratas e tempestades. O processo de localização começou com a pesquisa de documentos históricos, mapas antigos e relatos de marinheiros e pescadores locais.

Eles estudaram fontes que apontavam para uma área de profundidade relativamente rasa, onde o navio poderia ter afundado. Usando essas informações, a equipe utilizou um equipamento de sonar de varredura lateral para mapear o fundo do mar e buscar os destroços do WhyDah Gally.

Virada significativa em 1984

Em 1984, finalmente houve uma virada significativa. Após dois anos de árduas pesquisas, Barry Clifford e sua equipe conseguiram localizar uma grande estrutura submersa, a cerca de 15 metros de profundidade, que parecia ser o casco do WhyDah Gally.

O uso de sonar de alta resolução ajudou a identificar o contorno do casco, que tinha as características de um navio da época da pirataria. Essa descoberta inicial foi primordial para que a equipe pudesse passar para a fase seguinte: a escavação.

Processo de escavação: descobrindo os segredos do WhyDah Gally

O uso de tecnologias de mapeamento subaquático

A escavação do navio submerso exigia tecnologias avançadas para garantir que o local fosse explorado de forma sistemática e cuidadosa. A equipe de Barry Clifford usou sonar de alta definição para realizar varreduras do fundo marinho e criar mapas detalhados do local. Essas varreduras ajudaram a identificar áreas onde os artefatos poderiam estar concentrados e onde o casco do navio estava melhor preservado.

O mapeamento digital do fundo do mar foi outro passo importante. A equipe implementou tecnologia de fotografia subaquática e mapeamento 3D, que permitiu que o fundo marinho fosse reconstruído virtualmente. Isso não só ajudou a localizar artefatos em um local específico, mas também garantiu que as escavações fossem feitas com precisão.

Cada pedaço de destroço e artefato foi cuidadosamente documentado para manter um registro detalhado do sítio, o que é fulcral em escavações arqueológicas para preservar a integridade do local.

Os primeiros achados

A escavação revelou uma série de artefatos impressionantes, que começaram a confirmar que o WhyDah Gally realmente havia sido um navio pirata. Entre os primeiros objetos encontrados estavam cânions, típicos de navios piratas da época, e moedas de ouro que indicavam a natureza lucrativa das atividades de pirataria no navio.

A descoberta dos cânions foi significativa, pois esses artefatos eram uma parte essencial da estrutura do navio. O WhyDah Gally, é, nesse momento, confirmado como um navio pirata, além disso, as moedas de ouro, muitas delas provenientes de saques a navios mercantes, forneceram uma prova tangível do tesouro que os piratas estavam acumulando.

Além desses itens, a escavação também trouxe à tona fragmentos de objetos pessoais dos piratas. Pequenos itens como botões de uniformes, ferros de marca e utensílios pessoais ofereceram um relance da vida cotidiana no navio. Esses achados ajudaram a reconstruir não só a história do navio, mas também o contexto social e cultural de seus ocupantes.

A descoberta crucial: o sino inscrito “THE WHYDAH GALLY 1716”

Um dos achados mais importantes foi o sino inscrito com a data “THE WHYDAH GALLY 1716”. Este sino, encontrado durante as escavações, foi uma prova definitiva de que o navio submerso era, de fato, o WhyDah Gally. A inscrição, visível e legível, claramente identificava o navio e sua data de construção, eliminando qualquer dúvida sobre a verdadeira identidade do navio pirata.

Este achado foi definitivo para confirmar que os destroços encontrados realmente pertenciam ao navio de Samuel Bellamy, pois, até aquele momento, a identidade do navio havia sido uma questão de especulação, baseada em registros históricos e outros artefatos.

A descoberta do sino foi uma das peças chave para atestar a autenticidade da expedição e das escavações, transformando o achado em um marco para a história da pirataria. Ao lado dos outros itens recuperados, o sino com a inscrição deu um grande impulso às investigações históricas, consolidando a ligação entre o navio afundado e o famoso capitão pirata Samuel Bellamy.

A exploração do casco e a recuperação de relíquias

À medida que as escavações avançavam, a equipe de Clifford começou a explorar o casco do navio, que estava em um estado considerável de deterioração devido ao longo período submerso. Fragmentos de madeira e peças da estrutura foram recuperados, permitindo que os arqueólogos pudessem analisar o método de construção do navio e comparar com outros navios da época.

Os artefatos pessoais recuperados, incluindo relógios, cintos de pirata, joias e até mesmo documentos fragmentados, forneceram informações úteis sobre os membros da tripulação e suas atividades diárias. Esses itens eram frequentemente encontrados em locais que sugeriam que o WhyDah Gally tinha sido uma embarcação bem equipada e organizada, com piratas de diversas origens sociais.

Outro achado importante foi um relatório fragmentado escrito a bordo do navio, que revelou informações sobre as ofensivas e os saques realizados pelos piratas, bem como sobre a dinâmica interna dos tripulantes. Tais achados ajudaram a construir uma imagem mais clara das operações piratas e dos códigos de conduta que governavam as tripulações durante o auge da pirataria.

A contribuição para o estudo da pirataria

A escavação do WhyDah Gally trouxe uma nova perspectiva sobre a pirataria do século XVIII. Antes da sua descoberta, a maior parte do que se sabia sobre a pirataria vinha de relatos literários, como os livros de Robert Louis Stevenson, ou de fontes históricas parciais.

Embora esses relatos oferecessem uma visão emocionante da pirataria, eles não tinham o poder de mostrar a realidade da vida a bordo dos navios piratas. Com os artefatos recuperados e as descobertas feitas no WhyDah Gally, os historiadores foram capazes de entender melhor a real vida diária dos piratas.

Códigos de pirataria

Os códigos de pirataria, que regulavam tudo, desde a divisão de tesouros até o comportamento a bordo, foram esclarecidos por meio de documentos encontrados na escavação. A tripulação do WhyDah Gally seguia um conjunto de regras que promoviam uma forma de partilha pirata, com decisões importantes sendo tomadas em assembleias e com uma distribuição equitativa do saque.

As moedas de ouro e os itens pessoais ajudaram a lançar luz sobre o modo de operação dos piratas. Eles não eram apenas saqueadores, mas sim indivíduos com uma vida cheia de códigos, estratégias e uma rede de comunicação entre eles e outros piratas.

O estudo das técnicas de navegação e construção naval

Além disso, a recuperação de partes do casco do WhyDah Gally também contribuiu para o estudo das técnicas de construção naval da época.

A madeira utilizada no navio, a forma e a estrutura, além da análise das técnicas de construção, ajudaram os arqueólogos a entender melhor como os piratas conseguiam fazer suas embarcações rápidas e eficientes para arremeter seus alvos.

Essas descobertas também trouxeram à tona as práticas de manutenção e reparo de navios durante viagens longas.

O museu do WhyDah Gally e a exposição dos artefatos

O museu e o legado da descoberta

O Museu do WhyDah Gally foi inaugurado em Provincetown, Massachusetts, em 1985. Criado com o objetivo de preservar os artefatos encontrados e educar o público sobre a história da pirataria e a importância do WhyDah Gally. Ele se tornou um ponto turístico significativo e uma fonte rara de informações sobre a pirataria no século XVIII.

Exposição de artefatos: o que foi encontrado e seu significado

O museu exibe uma variedade de artefatos encontrados durante as escavações, incluindo moedas, botões, joias e outros itens pessoais dos piratas e da estrutura do navio. Cada artefato tem uma história singular e contribui para o entendimento da vivência em um navio pirata.

A exibição de moedas de ouro, por exemplo, ilustra o saque que os piratas realizavam nas embarcações mercantes e os recursos que eram coletados para financiar suas atividades. Cada item encontrado, além de ser um tesouro histórico, se torna um componente fundamental na compreensão de como os piratas operavam e viviam.

A importância da redescoberta e o impacto duradouro

Resumindo, a redescoberta do WhyDah Gally é uma das mais importantes da arqueológica marinha de todos os tempos. As expedições lideradas por Barry Clifford não apenas revelaram um tesouro de artefatos, mas também proporcionaram um novo conhecimento sobre a vida dos piratas no século XVIII.

Por meio dessa jornada de escavação, o WhyDah Gally passou de lenda a uma história real, com impacto duradouro no estudo da pirataria e da arqueologia marinha. O Museu do WhyDah Gally se tornou uma ponte entre o passado e o presente, permitindo que as futuras gerações compreendam o impacto da pirataria na história e na cultura naval mundial.

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